quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A ARTE ROMÂNICA

I - DADOS CRONOLÓGICOS:
A arte românica manifesta-se entre o século XI e XII.


II – CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL:
Em 476, com a tomada de Roma pelos povos bárbaros, tem início o período histórico conhecido por Idade Média, contribuindo para a decomposição das instituições monárquicas.

O poder real, diminuído em sua autoridade, vai sendo substituído pelo poder dos nobres castelões: o castelo feudal era a única fortaleza que oferecia alguma resistência aos invasores, e as populações atemorizadas se organizavam em torno dele. Essa instabilidade colabora para a propagação da crença de que o mundo acabaria no ano 1000. Os homens vivem aterrorizados com a perspectiva do juízo final pregado pela Igreja: temem o caos. A arte reflete o apocalipse, as pinturas murais apavorantes retratam o pânico que invade a Europa ocidental.
Começou o ano 1001 e o mundo não acabou. Ressurgem as atividades comerciais antes freadas pelas invasões, e o aumento demográfico é seguido pelo aumento de áreas cultivadas.
A Igreja fortalece seu poder temporal aumentando as extensões de terra que dominava até então: chega a possuir um terço de todo o território francês. A Igreja é a maior instituição desta época: ela domina, secular e culturalmente, o espírito medieval.
Nos anos que se seguiram ao ano 1000, viram-se reconstruir igrejas em quase toda a Europa cristã. Mesmo quando isso não era necessário, cada comunidade cristã concorria em emulação para edificar santuários mais suntuosos que sua vizinha. A febre de construção que invadiu a Europa reflete o espírito da época, e o estilo românico, que caracterizou as artes desde o fim do século X até meados do século XII, sintetiza em seus traços a histórica desse período.


III – CARACTERÍSTICAS:

Na Idade Média a arte tem suas raízes na época conhecida como Paleocristã, trazendo modificações no comportamento humano, com o Cristianismo como religião oficial do Império Romano, a arte se voltou para a valorização do espírito. Os valores da religião cristã vão impregnar todos os aspectos da vida medieval. A concepção de mundo dominada pela figura de Deus proposto pelo cristianismo é chamada de teocentrismo (teo = Deus). Deus é o centro do universo e a medida de todas as coisas. A igreja como representante de Deus na Terra, tinha poderes ilimitados.

Depois do reconhecimento do Cristianismo a Arte Cristã Primitiva dividiu-se em dois grandes ramos, um oriental e outro, ocidental.
O ramo oriental originou a ARTE BIZANTINA.
O ocidental, mais tarde, gerou a ARTE ROMÂNICA.
Chama-se Arte Românica porque teve origem nas formas artísticas da Roma Pagã e Cristã, e desenvolveu-se por toda a Europa entre os séculos V a VII.
Os artistas dedicavam-se principalmente à pintura de afrescos em murais. Esses murais tornam-se uma arte coletiva, onde o objetivo é a propaganda e a educação.
Há um perfeito entrosamento entre pintura e escultura, onde as formas românicas se harmonizam com as pinturas.
Desta forma, criaram-se diversas escolas e estilos, com peculiaridades regionais e características locais.
A arte românica, cuja representação típica é as basílicas de pedra com duas apses e torres redondas repletas de arcadas, estendeu-se do século XI à primeira metade do século XIII. Seu cenário foi quase toda a Europa, exceto a França, que já a partir do século XII produzia arte gótica. Apesar da barbárie e do primitivismo que reinaram durante essa época, pode-se dizer que o românico estabeleceu as bases para a cultura européia da Idade Média.
Datam dessa época entre outras, as famosas catedrais de Worms, na Alemanha, St. Sernin de Toulouse, St. Trophyme em Arles, St. Madeleine de Vezelay e a Catedral de Autun, na França, Santo Ambrósio de Milão e a Catedral de Pisa.


“AFRESCO”:
O termo “afresco”, hoje, é sinônimo de pintura mural. Originalmente, porém, era uma técnica de pintar sobre a parede úmida. Vem daí o seu nome.

Nesse tipo de pintura, a preparação da parede é muito importante. Sobre a superfície da parede é aplicada uma camada de reboco à base de cal, que, por sua vez, é coberta com uma camada de gesso fina e bem lisa. É sobre essa última camada que o pintor executa a sua obra.
Ele deve trabalhar com a argamassa ainda úmida, pois com a evaporação da água, a cor adere ao gesso, o gás carbônico do ar combina-se com a cal e a transforma em carbonato de cálcio, completando assim a adesão do pigmento à parede.
O afresco se distingue das demais técnicas porque, uma vez seca a argamassa, a pintura se incorpora ao reboco, tornando-se parte integrante dele. Nas outras técnicas, as figuras pintadas permanecem como uma película aplicada sobre o fundo. Além disso, como a parede deve estar úmida para receber a tinta, a camada de gesso é colocada aos poucos. Assim, se alguma área já pronta não receber pintura, ela precisa ser retirada e aplicada posteriormente.
Por esse motivo, observando um afresco de perto, podemos notar os vários pedaços em que foi sucessivamente executado.




• Os pintores românicos são verdadeiros muralistas e essa característica está ligada às formas da arquitetura, pois as grandes abóbadas e as espessas paredes laterais com poucas aberturas criavam grandes superfícies, que favoreciam a pintura mural.

• Esses murais tinham como modelo às ilustrações dos livros religiosos, pois nessa época era intensa nos conventos a produção de manuscritos decorados à mão, com cenas da História Sagrada.
• A pintura românica praticamente não registra assuntos profanos.
• As características essenciais da pintura românica foram à deformação e o colorismo.
• A deformação, na verdade, traduz os sentimentos religiosos e a interpretação mística que os artistas faziam da realidade. A figura de Cristo, por exemplo, é sempre maior do que as outras que a cercam. Sua mão e seu braço, no gesto de abençoar, têm as proporções intencionalmente exageradas, para que esse gesto seja valorizado por quem contempla a pintura. Os olhos eram muito grandes e bem abertos, para significar intensa vida espiritual.
• O colorismo realizou-se no emprego de cores chapadas, sem preocupação com meios-tons ou jogos de luz e sombra, pois não havia a menor intenção de imitar a natureza.
• Há predominância de linhas horizontais, os arcos eram em semicírculos; grossos pilares sustentavam as abóbadas e os arcos. As paredes maciças, com poucas janelas, davam ao interior das igrejas e mosteiros um aspecto sombrio e místico.
• As abóbadas davam as igrejas mais unidade e mais equilíbrio harmonioso nas proporções, de acordo com os ideais estéticos ligados a uma nova expressão de vida espiritual religiosa.
• Aberturas raras e estreitas usadas como janelas;
• Torres, que aparecem no cruzamento das naves ou na fachada;
• Arcos que são formados por 180 graus.



Panorama da Catedral Românica de Pisa com o baptistério, o duomo, o Camposanto e o campanário em 1909.

A primeira coisa que chama a atenção nas igrejas românicas é o seu tamanho. Elas são sempre grandes e sólidas. Daí serem chamadas: fortalezas de Deus. A explicação mais aceita para as formas volumosas, estilizadas e duras dessas igrejas é o fato da arte românica não ser fruto do gosto refinado da nobreza nem das ideias desenvolvidas nos centros urbanos, é um estilo essencialmente clerical. A arte desse período passa, assim a ser encarada como uma extensão do serviço divino e uma oferenda à divindade.

Foi nas igrejas que o estilo românico se desenvolveu em toda a sua plenitude. Suas formas básicas são facilmente identificáveis: a fachada é formada por um corpo cúbico central, com duas torres de vários pavimentos nas laterais, finalizadas por tetos em coifa. Um ou dois transeptos, ladeados por suas fachadas correspondentes, cruzam a nave principal. Frisos de arcada de meio ponto estendem-se sobre a parede, dividindo a planta.
Seu peso é sustentado por paredes espessas e maciças, com poucas janelas, para não comprometer a estabilidade da construção. Colunas internas e pilastras exteriores - chamadas contrafortes - proporcionam um reforço suplementar. Os pilares e colunas, às vezes formam espinhões - saliências na superfície interna das abóbadas. Os capitéis simples e robustos não obedecem a um estilo definido: são semi-esféricos, cúbicos, trapezóidais, conforme a fantasia do construtor.
A fachada é simples. Sobre a porta central está o óculo, abertura circular para iluminação e ventilação do interior. O resultado final é sempre um conjunto imponente de interiores sombrios. O estilo românico sintetiza a alma dos homens que o criaram. Por um lado, reflete o medo que dominava as populações da Europa ocidental; por outro, exprime o profundo sentimento religioso que marcou o período. À medida que o tempo passava e o poderio da Igreja aumentava, as construções foram se tornando mais e mais requintadas. O luxo da Abadia e dos inúmeros mosteiros chegou a tal ponto que motivou protestos dentro da própria Igreja.
Embora o estilo românico tenha dominado a Europa ocidental, unida pela fé, sua arquitetura apresentou, entretanto, variações regionais de acordo com as influências locais diversas, que originaram várias escolas românicas.

  
 A mais famosa é a Catedral de Pisa sendo o edifício mais conhecido do seu conjunto  o campanário que começou a ser construído em 1.174. Trata-se da Torre de Pisa que se inclinou porque, com o passar do tempo, o terreno cedeu.
 





Igreja Saint-Benoit-sur-Loire
Loiret, França


Igreja de São Martinho
Fromista, Palência


PINTURA E ESCULTURA

Numa época em que poucas pessoas sabiam ler, a Igreja recorria à pintura e à escultura para narrar histórias bíblicas ou comunicar valores religiosos aos fiéis. Não podemos estudá-las desassociadas da arquitetura.

A Igreja é o único edifício onde se reúne a população, e parte importante da vida social se desenrola no seu interior. As ricas ordens monásticas e os nobres poderosos procuram elevar em louvor a Deus os testemunhos de sua fé. Por isso, o estilo românico encontrará sua expressão maior na arquitetura. Considerada "arte sacra", ela está voltada à construção de igrejas, monastérios, abadias e mosteiros - as "fortalezas sagradas".
Na porta, a área mais ocupada pelas esculturas era o tímpano, nome que recebe a parede semicircular que fica logo abaixo dos arcos que arrematam o vão superior da porta. Imitação de formas rudes, curtas ou alongadas, ausência de movimentos naturais.
O motivo da arcada também se repete como elemento decorativo de janelas, portais e tímpanos. As colunas são finas e culminam em capitéis cúbicos lavrados com figuras de vegetais e animais. No conjunto, as formas cúbicas de muros e fachadas se combinam com as cilíndricas, de apses e colunas.
O plano protótipo da igreja românica deriva da basílica latina, local amplo, anteriormente destinado ao funcionamento dos tribunais romanos. A nave principal é cortada pelo transepto, o que lhe dá a simbólica forma de cruz. As naves laterais, secundando a principal, permitiam que muitos peregrinos circulassem sem interromper as celebrações dos rituais. Nas absides, pequenas capelas semicirculares que arrematam as naves, encontravam-se as imagens sagradas, e as valiosas relíquias eram encerradas na cripta, sob o altar principal. Entre o altar principal e as absides situa-se o coro, e tem-se acesso a essas capelas por uma passagem em semicírculo, denominada deambulatório. A iluminação indireta vem através das naves secundárias, dada por pequenas aberturas laterais, janelas diminutas que não conseguem atenuar o aspecto sombrio da igreja românica.









Nenhum comentário: