sábado, 18 de dezembro de 2010

REVISÃO FUVEST 2011 - FOCO NARRATIVO

1. “CAPITÃES DA AREIA”:

- terceira pessoa, com o narrador se permitindo a onisciência, ou seja, narrando os fatos e fora e, ao mesmo tempo, de dentro, quando penetra na interioridade das diferentes personagens;

- o narrador principal cede a voz a narradores secundários por meio de personagens que contam os fatos;
- narrador especial, frio e pretensamente objetivo, quando traz para o romance, textos jornalísticos, principalmente no início do relato. Esse tipo de voz cria nítido contraponto com a voz apaixonada, lírica, do narrador, que acompanha de perto a vida das crianças;
- esse duplo movimento – adesão aos humildes e distanciamento dos prepotentes – acentua ainda mais a postura ideológica do escritor na medida em que a escolha da voz narrativa é fundamental para determinar o seu compromisso com uma arte engajada.

“VIDAS SECAS”:
- “O narrador não quer identificar-se com a personagem, e por isso há na sua voz uma certa objetividade de relatar. Mas quer fazer às vezes do personagem, de modo que, sem perder a própria identidade, sugere a dele. É como se o narrador fosse, não um intérprete mimético, mas alguém que institui a humanidade de seres que a sociedade põe à margem, empurrando-os para a fronteira da animalidade. Aqui, a animalidade reage e penetra pelo universo reservado, em geral, ao adulto civilizado.” (Antônio Cândido)

- não se trata de um narrador onisciente; mas, de um narrador que relata com objetividade, clareza e precisão, ao mesmo tempo, humanizando as personagens e traduzindo o silêncio que as caracteriza;
- utilizando-se do uso do discurso indireto livre, de monólogos interiores e do fluxo de consciência das personagens, o narrador converte o silêncio em palavras que elas não sabem dizer.

“MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS”:
- o romance é narrado em terceira pessoa, sendo um narrador-observador/comentarista quem conta a história;

- o cinismo bem humorado, as sistemáticas interferências nas situações sempre divertidas que relata as ironias e as brincadeiras envolvendo costumes e personagens da época constituem alguns traços marcantes deste narrador, cujo juízo crítico a respeito do que vai documentando algumas vezes revela-se de forma claramente debochada;
- o tom constante de seus comentários, que por vezes chegam a ser contundentes críticas à sociedade, aos costumes ou a uma determinada personagem, é sempre de bom humor e ironia;
- em apenas duas passagens do romance o narrador deixa entrever que não sabe o que se passa com as personagens. Uma dela é quando, no capítulo XXI diz a respeito do amor de Leonardo por Luisinha: “...é isso segredo do coração do rapaz que nos não é dado penetrar: o fato é que ele a amava, e isto basta”. A outra quando, no capítulo XXVIII, diz a respeito da conversa entre Luisinha e Leonardo: “O que ele se diziam não posso dizê-lo ao leitor, porque não sei.”
- usando do recurso de contador de histórias, o narrador conduz o enredo segundo sua conveniência. Para atrair a atenção e interesse do leitor faz um jogo de esconde/revela em que deixa em suspenso ações, explicações sobre as personagens, e mesmo o nome de algumas personagens, para mais tarde revelá-los;
- além de romper com a tradicional postura idealizadora do narrador romântico, em relação aos indivíduos e também a terra, o narrador da obra, ora transita da terceira para a primeira pessoa do plural. Geralmente quando muda o foco da narrativa, fazendo uma chamada ao leitor, pedindo sua cumplicidade. Assim, ele assume caráter metalinguístico com o leitor, o que significa um anúncio de procedimentos modernistas, também percebido nas conversas com o leitor e nos comentários jocosos que faz a propósito do que conta.

“O CORTIÇO”:
- narrado em terceira pessoa onisciente, segundo Rui Mourão: “[...] podendo, em consequência, deslocar o foco narrativo da maneira que bem entender, sem consideração das circunstâncias de espaço e tempo [...]”.


“A CIDADE E AS SERRAS”:
- narrado em primeira pessoa, como a maioria dos romances de Eça de Queirós, há um narrador-personagem, Zé Fernandes, o qual não se confunde com o protagonista da obra, Jacinto de Tormes;

- narrador-testemunha, pois além de ser personagem da história, ele conta o que vê e sobre o que ficou sabendo e o que aconteceu; tudo o que foi narrado, foi selecionado pela memória do eu-narrativo (Zé Fernandes) a partir da sua memória dos fatos e da sua subjetividade. Portanto, todas as personagens, as paisagens e os acontecimentos são apresentados com base nas opiniões desse narrador;
- nos primeiros parágrafos do livro o narrador, em vez de apresentar-se ao leitor, coloca-se em segundo plano para apresentar toda a descendência dos de Tormes, até aparecer à figura de Jacinto. Além disso, dá-lhe tratamento diferenciado, parecendo idealizar Jacinto, na medida em que o chama de "Príncipe da Grã-Ventura", conforme apelido estudantil do protagonista.

“DOM CASMURRO”:
- narrado em primeira pessoa pelo protagonista masculino que dá nome ao romance, já velho e solitário, desiludido e amargurado pela casmurrice, conforme lhe está no apelido;

- a visão que temos dos fatos é perpassada da sua ótica subjetiva e unilateral;
- a obra tem uma atmosfera memorialista. Tudo que se sabe do seu passado, de seu relacionamento amoroso com Capitu; só os conhecemos pelo seu ângulo, por sua perspectiva. Os acontecimentos exteriores são considerados somente na medida em que revelam o interior, os motivos profundos da ação, que Machado devassa e apresenta detalhadamente;
- narrativa lenta, pois o menor detalhe, os menores gestos são significativos na composição do quadro psicológico; nada é desprovido de interesse. Essa fixação pelo pormenor é o que se denomina microrrealismo.

 “IRACEMA”:
- narrada em terceira pessoa, por um narrador que conhece os fatos narrados, reconstituindo-os e interpretando-os;

- predominância do tempo verbal no presente do indicativo;
- o autor que se supõe impessoal, intromete-se na narração e se coloca como o narrador da história (“uma história que me contaram...”) para narrar uma lenda ouvida por ele da oralidade de sua terra natal, o Ceará.

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