terça-feira, 1 de março de 2011

EL GRECO, VERTENTE COLORISTA DO SÉC. XVI

1541 - 1614

De El Greco disse Picasso: “O primeiro cubista”. No seu túmulo, em Toledo, está escrito: "Aqui jaz o grego de quem a natureza aprendeu a arte”.

Domenikos Theotocopoulos, o El Greco reuniu as três culturas que o influenciaram: o artigo “el” do espanhol; o substantivo “greco” do italiano e o significado “o grego”, que indica sua origem.

Nasceu em Creta (então sob o domínio de Veneza), mais tarde foi para Roma e depois, instalou-se definitivamente em Toledo, na Espanha.
Adotou as cores vividas de Ticiano; a iluminação dramática de Tintoretto; a influência de Michelangelo e Rafael e as características maneiristas de Roma.
Dizia que detestava sair à luz do sol porque “a luz do dia cega a luz de dentro”.
A característica mais marcante de sua pintura advém dessa luz interna. Uma iluminação sobrenatural e cores adstringentes como rosa forte, verde-ácido, azuis e amarelos luminosos aproxima o seu estilo da Renascença.
Sua pintura é marcada pela verticalidade; figuras esguias e alongadas que deixam de lado o ideal de beleza da Renascença e composições plenas de movimento espiralado.

“Eu não ficaria feliz em ver uma mulher bem proporcional e bonita, não importa sob qual ponto de vista, ainda que extravagante, não apenas perderia sua beleza e ordem, eu diria, quando aumentada em tamanho de acordo com as leis da visão, já não mais aparecia bonita, e, em verdade, seria monstruosa.”

Uma das características do Maneirismo era a deformação dos corpos (geralmente alongados), os músculos faziam contorções absolutamente impróprias para os seres humanos. A deformação dos corpos era um tipo de resposta a busca pela perfeição corporal tido no renascimento. Outras características interessantes eram a multidão de pessoas e figuras numa mesma cena, os rostos melancólicos e misteriosos, que também faziam certa oposição ao modo renascentista onde as pessoas apareciam totalmente sem sentimentos (pareciam pousar para fotos).
No Renascimento uma das características observadas na pintura era a chamada “claridade expositiva”, onde havia luz em toda a composição, como se a pintura fosse feita sempre ao meio-dia. Ao contrário dessa lógica, o Maneirismo e o Barroco vieram com um estilo diferente, eles deixavam a cena mais escura como se as coisas estivessem encobertas por sombras revelando só o essencial para compreensão, porém o maneirismo não foi como o Barroco em questão de escuridão, nas obras, as cenas não eram tão escuras em comparação com a escola sucessora. Ainda falando sobre o uso da luz, ela se detinha sobre alguns objetos e figuras, produzindo sombras inadmissíveis, o que dava um tom fantasioso às obras.

Técnicas e estilo artístico:

- El Greco colocou tons dramáticos e expressivos em suas obras de arte;
- Desenhou figuras de forma tortuosa e alongada;
- Juntou tradições artísticas européias e bizantinas;
- Dramatizou suas obras, valorizando os sentimentos e emoções espirituais;
- Uso de técnicas de luminosidade, onde o ponto de origem luminosa fica numa fonte não visualizada pelo observador;
- Supervalorização das cores usadas em suas pinturas;
- Abordagem de temas religiosos, paisagens e retratos.

A primeira encomenda que o pintor teve, logo que chegou a Toledo, foi um conjunto de pinturas para o altar-mor e dois altares laterais na igreja conventual de São Domingos o Velho existente na cidade. O próprio desenho dos altares foi feito por El Greco, no estilo do arquiteto veneziano Palladio. O quadro realizado para o altar-mor, a “Assunção da Virgem” marca um novo período na vida do artista.


"Assunção da Virgem"


A influência de Michelangelo faz-se sentir no desenho das figuras humanas, sendo a técnica, sobretudo o uso liberal da cor branca para salientar as figuras e os pormenores; mas a intensidade das cores e a manipulação dos contrastes são de El Greco.
A tendência do pintor para alongar a figura humana, aprendida em Miguelangelo, mas também em Tintoretto e Paolo Veronese, e em pintores maneiristas vai caracterizar toda a sua pintura.
A relação de El Greco com a corte de Filipe II foi muito breve e mal sucedida. O artista pintou dois quadros, a "Alegoria da Santa Liga" ("O Sonho de Filipe II" de 1578-79) e o "Martírio de S. Maurício" (1580-82). A última obra foi rejeitada pelo próprio rei, que encomendou outra para substituir a do pintor de Toledo.

“Alegoria da Santa Liga”


“Martírio de S.Maurício”


A obra considerada a sua obra prima é pintada após este fracasso, no relacionamento com a corte espanhola.
"O Enterro do Conde de Orgaz" (1586-88, Igreja de São Tomé, Toledo) apresenta uma visão sobrenatural da Glória (o Céu) por cima de um impressionante conjunto de retratos que demonstram todos os aspectos da arte deste gênio criador.


“O Enterro do Conde de Orgaz” (1586-88)

“O Enterro do Conde de Orgaz” (1586-88, Igreja de São Tomé, Toledo), El Greco distinguiu claramente o Céu e a Terra. Na parte de cima, o Céu é representado por nuvens de forma quase abstrata, sobre um fundo de anjos e santos, com expressão fantasmagórica, São Pedro, Nosso Senhor e a Virgem que recebem a alma do defunto em forma de criança levada por um anjo.
Na parte de baixo, a escala e a proporção das figuras são normais. De acordo com a lenda, Santo Agostinho e Santo Estevão aparecem miraculosamente para colocar o conde de Orgaz no túmulo, como prêmio pela sua generosidade para com a Igreja. O jovem representado ao lado do corpo do conde é o filho do pintor, Jorge Manuel. Os homens, vestidos contemporaneamente, que estão presentes no funeral são membros proeminentes da sociedade toledana do século XVI. A técnica de apresentação da composição é integralmente maneirista, já que toda a ação se desenrola no primeiro plano.

De 1590 até a sua morte o número de obras que executou é extraordinário. Sendo que algumas das suas encomendas mais importantes se realizam nos últimos 15 anos da sua vida, entre elas: "Adoração dos Pastores" (Museu do Prado, Madrid) pintado entre 1612 e 1614, na "Visão de São João" ou na "Imaculada Conceição" pintada de 1607 a 1613 (Museu de Santa Cruz, Toledo).

“Adoração dos pastores”


“Visão de São João”

Embora o estilo de EL GRECO seja usualmente colocado sob a designação geral de Maneirismo, suas últimas obras foram em muitos aspectos, barrocas de espírito. Ele foi um dos primeiros artistas a desenvolver o movimento ascendente contínuo, típico do Barroco, e a transmitir emoção por meio de planejamento adejantes, expressões e gestos de êxtase. A “Imaculada Conceição” foi um dos temas de devoção postos em relevo pelo Concílio de Trento.

“A imaculada Conceição” (1613)

Nas três paisagens que pintou, o pintor demonstrou sua tendência mais característica a de dramatizar mais que descrever, e no seu único quadro que tem a mitologia por tema, o "Laokoon" de 1610-14, mostrou ter pouco respeito pela tradição clássica. 

"Laokoon"


Os seus retratos se são menos numerosos do que as suas obras de caráter religioso, não deixam de ter a mesma qualidade.

El Greco pintou personagens da Igreja, como "Frei Felix Hortensio Paravicino” (1609) e o "Cardeal Don Fernando Niño de Guevara" (1600); assim como personalidades da sociedade de Toledo, como "Jeronimo de Cevallos" (1605-1610), ou o célebre "O Cavaleiro com a mão no peito" (Museu do Prado) de 1577 a 1584, e outros. Todos são característicos dos meios simples com que o artista criou caracterizações memoráveis, que o colocam numa posição proeminente enquanto retratista, ao lado de Ticiano e de Rembrandt.


Um comentário:

Ana Carolina disse...

Olá!
Gostaria de saber a qual parte da mitologia o quadro laokoon se refere.
Obrigada