quinta-feira, 5 de abril de 2012

POP ART: INTRODUÇÃO E CARACTERÍSTICAS



I – DADOS CRONOLÓGICOS:
  A POP ART é um movimento artístico que floresceu nos finais dos anos 50 e 60, sobretudo nos Estados Unidos e no Reino Unido.
   Até a chegada da contemporaneidade novecentista, nunca havia ocorrido que a arte nascesse sem uma prévia demanda da sociedade ou dos poderes que a dirigiam, nem mesmo que seu sucesso público dependesse do escândalo social promovido por suas insólitas ações e reações. 
   Associa-se o seu nascimento com a exposição realizada em Londres “Isso é amanhã”, em 1950, por artistas não famosos. Eram jovens de uma faixa etária de vinte e dois anos que não tinham pretensão de ingressar no mercado de arte e criticava o consumismo, a produção de bens e venda no mundo europeu.
   A “paternidade” do nome é atribuída ao crítico de arte Lawrece Alloway, que fazia assim alusão à utilização, pelos artistas deste movimento, de objetos banais do quotidiano em suas obras.



   O movimento surgiu na Inglaterra, mas foi em Nova York que ela se irradiou e pelo resto dos Estados Unidos, assim como pela Europa, Japão e América Latina.
   Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a Arte Pop teve expressões diferentes e alguns críticos consideram que a corrente americana foi mais emblemática e agressiva que a britânica.
   Em 1962, a representação norte-americana na Bienal de Veneza obteve grande sucesso com um conjunto de obras POP, termo-chave para designar essas “Novas figurações”.
   Em 1964, Robert Rauschenberg recebeu o grande prêmio do evento italiano, consolidando o movimento. Houve, paralelamente, uma atuação relevante de críticos norte-americanos que o apoiaram e, assim, a POP ARTE foi assimilada pela crítica internacional, pelo mercado de arte, colecionadores e museus.


II – CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL:
   A grave crise que ameaçava os Estados Unidos no período anterior à II Grande Guerra foi rapidamente debelada e o poder aquisitivo do povo americano aumentou bastante depois da guerra.
   Os recursos que antes estavam dirigidos para a produção de materiais bélicos voltavam-se agora para a produção de utilidades domésticas, automóveis e a mais variada gama de produtos.
   As reivindicações dos trabalhadores perderam a combatividade revolucionária do começo do século XX para se ater tão somente à manutenção do padrão de consumo.
   É a época de reconstrução física e arquitetônica (incremento da economia); e da implantação de indústrias de bens. Para que os produtos fossem vendidos, tinham quer ser barateados e despertar desejos nas pessoas por esse bem. Portanto, é o tempo da publicidade!

  
O século XX passa a ser a indústria de produção de desejo e a busca da satisfação de uma maneira rápida e imediata.
   A primeira forma de propaganda ocorreu na Alemanha de Hitler. O sucesso do nazismo é a sua prova mais concreta: sem televisão, sem rádio e com cinema propagandístico, os meios de comunicação se voltavam a interesses políticos.
   Propagar é difundir; portanto, a publicidade está ligada diretamente à persuasão e as pessoas acabam sendo vítimas do seu próprio desejo: o consumo (coisas que acreditam que não podem viver sem adquiri-las).
   Surgem dessa forma, os “GADGETS”, cacarecos que as pessoas compram por impulsos e as Agências de Publicidade, que serão responsáveis por desenvolverem esses desejos, através da televisão, novelas, comerciais, revistas etc.

III – CARACTERÍSTICAS:


   A POP ART significa “arte popular”, mas não regional.  Sua proposta era eliminar quaisquer barreiras entre a arte e a vida comum e converteu-se numa malévola e irônica “pseudo-artesania”; no fundo, uma realidade antitética da qual durante séculos a arte popular havia sido a artesã.
   Os artistas POP abraçaram as imagens comerciais e os conceitualistas reduziram a ideia de arte feita à mão ao nível zero, deixando a arte existir mais na mente do que na tela.
   O “povo” existe, e haveria de chegar o instante em que os artistas pensassem na sua existência e até quisessem ser um pouco como ele. De fato, a vanguarda artística não podia permanecer cega enquanto, que, outras famílias da arte, nem sempre “menores”, era consumida pela sociedade de massas, a “mass media”: a publicidade em geral, o desenho industrial, a fotografia, o cartazismo comercial, as revistas ilustradas, a infinidade de objetos, onde o pró-consumismo fabril não só abastece ao homem comum como, além disso, desperta artificialmente um insaciável apetite de consumir por consumir, a libido do consumo. 
   No entanto, a POP ART continua sendo uma arte de elite; muito minoritária na escala de população humana; só desfrutável pelas massas nas grandes exposições, museus e publicações ilustradas. Não dissimula esta realidade o fato de que algumas obras sejam feitas para serem editadas serigraficamente, por um “baixo” preço que está ao alcance de um pequeno número de pessoas e que a comercialização da arte e o colecionismo elevam rapidamente, nas revendas e leilões.
A POP ART enfim, trouxe um novo tipo de figuração que enfocava o imaginário popular no cotidiano da classe média urbana. Longe de ser uma representação realista dos objetos ou conteúdos, mostrava a interação do homem com a sociedade por meio de sua relação com as linguagens, isto é, com as formas de transmissão dos conteúdos sociais pela mídia.
   Nesse sentido, o universo da POP ARTE nada tem de abstrato ou de expressionista, porque transpõe e interpreta a iconografia da cultura popular das grandes cidades norte-americanas e a vida proporcionada pela tecnologia industrial. Assim, seus temas apareciam na forma de símbolos e produtos de consumo em massa pelo grande público, como revistas em quadrinhos, bandeiras, fotografias, reproduções, lâmpadas elétricas, dentifrícios, automóveis, sinais de trânsito, eletrodomésticos, alimentos enlatados, mitos cinematográficos, vinhetas que lembram as que se vêem e lêem, narrando aventuras de alcovas ou dos espaços siderais. Um tipo especial de figuração mediado pelos meios de comunicação em massa.
   O sentido e os símbolos da POP ART pretendiam ser universais e facilmente reconhecidos por todos, numa tentativa de eliminar o fosso entre arte erudita e arte popular.
   O sucesso obtido pela POP ART se parece ao obtido pelo Surrealismo em amplos extratos da cultura. Não se resiste a aceitá-la, não fazem questão de entendê-la e precatam imediatamente o quanto tem de lúdico; fazendo que, as coisas comuns de seu consumismo cotidiano se categorizam em termos inclusive monumentais.
   Com a POP ART a realidade comum se situa diante dos olhos do espectador em outra realidade, tal como o Dadaísmo de Duchamp já havia feito no princípio do século. Mas, agora não se trata de um gesto anárquico com o qual objetivava agredir e desconcertar contra culturalmente os mais ou menos intelectuais. Ao contrário, embora pese o humor irônico da Arte-Pop, o que se deseja é problematizar, divertindo. Que inclusive muitas vezes seu sucesso público dependesse do escândalo social promovido por suas insólitas ações e reações. No entanto, com a lição do Dadaísmo, a POP ART decide manejar a “realidade” que comportam em si os objetos produzidos para se oporem aos emocionalismos e intelectualismos da Abstração. Tanto em obras de vulto, quase esculturas, como por procedimentos que de algum modo possam se parecer às técnicas e consistência estrutural da pintura.
   O Neo-Dadá ou POP ART podia contar com um grande número de contempladores, que era viável de ser produzida em série; que não tinha porque ter pretensões transcendentalistas de “eternidade”; que podia ser perfeitamente efêmera; “vulgar” e atraente para a juventude.
   Dando continuidade à ideia dos “ready-mades” de Duchamp, às “assemblages” e às apresentações dos teatros Dadá e Futurista da pós-Primeira Guerra Mundial, surgem os objetos, os ambientes e os “happenings” que, por sua vez, deram origem às instalações, à “body art” e à “performance”.        
   Esteticamente pode-se caracterizar a Pop Arte, apesar de sua heterogeneidade, a partir do uso de cores saturadas, de formas simples com delineamentos nítidos e supressão do espaço profundo, dos temas inspirados na sociedade de consumo e de um processo de produção semimecânico, que utiliza uma transferência direta de imagens, através da serigrafia e de técnicas de colagem. Usam ou simulam cartazes semi-arrancados das ruas. A técnica do cartaz comercial é aproveitada em contextos que não permitem esquecer certos descobrimentos do abstrato. Acrescentam ao quadro animais dissecados.
Os artistas do movimento POP recorriam sempre à imagem daquela época (aquilo que foi notícia ou está explodindo como notícia), as que eram facilmente reconhecidas e veiculadas por diferentes mídias e já saturadas (imagem desgastada). Eram imagens de segunda mão: o clichê estava inventado, assimilado e reduzidas ao nível da objetivação: a reificação (latim, coisas), perdendo a sua individualização, a preferência, a escolha; tornando-se a ser somente mais um.
   Uma lata de sopa se torna tão famosa como o belo rosto de Marilyn Monroe. Jogam com as listras e estrelas da bandeira norte-americana; torna acromegálicas as faixas e quadrinhos dos “comics”, passatempo da “mass media” pouco dada à leitura “séria”.
   Acumulam e emolduram as mais diversas peças industriais e mecânicas, em um monte de desperdícios categorizado. Mesclam anjos devotos, bonecas nuas ou vestidas, caveiras etc. Não falta o “sexy” e nem o divertido.
   As garrafas de Coca-cola de Warhol, os corpos estilizados das mulheres nuas de Tom Wesselman , onde se evidencia o bronzeado pela marca do bikini ou ainda os objetos gigantes de plástico, como o tubo de pasta de dentes de Claes Oldenburg, são exemplos da forma como estes artistas interpretavam uma sociedade dominada pelo consumismo, o conforto material e os tempos livres.
   As peças dos artistas da Pop também iam buscar as suas referências à produção industrial. Veja-se, por exemplo, a repetição de um mesmo motivo nas serigrafias de Warhol ou as telas gigantes de Lichtenstein onde, ao ampliar as imagens de banda desenhada, o artista revela os pontos de cor inerentes à reprodução tipográfica.


A POP ART NO BRASIL

Enquanto na Inglaterra e nos Estados Unidos, a POP ART tinha temas pouco politizados (pelo menos na intenção de seus criadores) e era muito inspirada pelos meios de comunicação de massa, no Brasil aconteceu o contrário. Nos anos 60, devido à incipiente dimensão dos meios de comunicação de massa no país, a POP ART brasileira ganhou predominantemente ares de engajamento político e de discussão dos problemas sociais. As técnicas de colagem, montagem, serigrafia e alto-contraste foram exploradas nos trabalhos de artistas como Cláudio Tozzi, Rubens Gerchman, Antonio Dias e Wesley Duke Lee. Tozzi foi um dos artistas brasileiros a usar temas dos meios de comunicação de massa e a linguagem dos quadrinhos, como na série de pinturas “O Bandido da Luz Vermelha” (1967).