sábado, 16 de março de 2013

VÍCIOS DE LINGUAGEM



A gramática é um conjunto de regras que estabelece um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. As alterações defeituosas que sofrem a língua em sua pronúncia e escrita devidas à ignorância do povo ou ao descaso de alguns escritores, têm os chamados vícios de linguagem. São eles:

1. Barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta.
pesquiza (em vez de pesquisa)
prototipo (em vez de protótipo)

2. Solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática.
“Fazem dois meses que ele não aparece.” (em vez de faz; desvio na sintaxe de concordância)
São os erros que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação.
Exemplos:

Solecimo de regência:
“Ontem assistimos o filme.” (por: Ontem assistimos ao filme)
“Cheguei no Brasil em 1923.” (por: Cheguei ao Brasil em 1923)
“Pedro visava o posto de chefe.” (correto: Pedro visava ao posto de chefe).

Solecismo de concordância:
“Haviam muitas pessoas na festa.” (correto: Havia muitas pessoas na festa)
“O pessoal já saíram?” (correto: O pessoal já saiu?)

Solecismo de colocação:
“Foi João quem avisou-me.” (correto: Foi João quem me avisou).
“Me empresta o lápis.” (Correto: Empresta-me o lápis).

3. Ambiguidade ou Anfibologia: trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido.
“O guarda deteve o suspeito em sua casa.” (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?)

4. Cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de palavras.
“Paguei cinco mil reais por cada.”      

5. Eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som.
“O menino repetente mente alegremente.”

6. Pleonasmo vicioso: consiste na repetição desnecessária de uma ideia.
“O pai ordenou que a menina entrasse para dentro imediatamente.”
Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo enfático, este não é considerado vicioso.

7. Arcaísmo:
Palavras, expressões, construções ou maneira de dizer que deixaram de ser usadas ou passaram a ter emprego diverso.
Na língua viva contemporânea: asinha (por depressa), assi (por assim) entonces (por então), vosmecê (por você), geolho (por joelho), arreio (o qual perdeu a significação antiga de enfeite), catar (perdeu a significação antiga de olhar), faria-te um favor (não se coloca mais o pronome pessoal átono depois de forma verbal do futuro do indicativo), etc.

8. Vulgarismo: É o uso linguístico popular em contraposição às doutrinas da linguagem culta da mesma região.
O vulgarismo pode ser fonético, morfológico e sintático.

Fonético:
A queda dos erres finais: anda, comê, etc. A vocalização do "L" final nas sílabas.
Ex.: mel = meu , sal = saú etc.
A monotongação dos ditongos.
Ex.: estoura = estóra, roubar = robar.
A intercalação de uma vogal para desfazer um grupo consonantal.
Ex.: advogado = adevogado, rítmo = rítimo, psicologia = pissicologia.

Morfológico e sintático:
Temos a simplificação das flexões nominais e verbais. Ex.: Os aluno, dois quilo, os homê brigou.
Também o emprego dos pronomes pessoais do caso reto em lugar do oblíquo. Ex.: vi ela, olha eu, ó gente, etc.

9. Estrangeirismo: Todo e qualquer emprego de palavras, expressões e construções estrangeiras em nosso idioma recebe denominação de estrangeirismo. Classificam-se em: francesismo, italianismo, espanholismo, anglicismo (inglês), germanismo (alemão), eslavismo (russo, polaço, etc.), arabismo, hebraísmo, grecismo, latinismo, tupinismo (tupi-guarani), americanismo (línguas da América) etc...
O estrangeirismo pode ser morfológico ou sintático.
Estrangeirismos morfológicos: Francesismo: abajur, chefe, carnê, matinê etc...
Italianismos: ravioli, pizza, cicerone, minestra, madona etc...
Espanholismos: camarilha, guitarra, quadrilha etc...
Anglicanismos: futebol, telex, bofe, ringue, sanduíche breque.
Germanismos: chope, cerveja, gás, touca etc...
Eslavismos: gravata, estepe etc...
Arabismos: alface, tarimba, açougue, bazar etc...
Hebraísmos: amém, sábado etc...
Grecismos: batismo, farmácia, o limpo, bispo etc...
Latinismos: index, bis, memorandum, quo vadis etc...
Tupinismos: mirim, pipoca, peteca, caipira etc...
Americanismos: canoa, chocolate, mate, mandioca etc...
Orientalismos: chá, xícara, pagode, kamikaze etc...
Africanismos: macumba, fuxicar, cochilar, samba etc...
Estrangeirismos Sintáticos:

Exemplos:
Saltar aos olhos (francesismo);
Pedro é mais velho de mim. (italianismo);
O jogo resultou admirável. (espanholismo);
Porcentagem (anglicanismo), guerra fria (anglicanismo) etc...

10. Obscuridade: Vício de linguagem que consiste em construir a frase de tal modo que o sentido se torne obscuro, embaraçado, ininteligível. Em um texto, as principais causas da obscuridade são: o abuso do arcaísmo e o neologismo, o provincianismo, o estrangeirismo, a elipse, a sínquise (hipérbato vicioso), o parêntese extenso, o acúmulo de orações intercaladas (ou incidentes) as circunlocuções, a extensão exagerada da frase, as palavras rebuscadas, as construções intrincadas e a má pontuação.
Ex.: “Foi evitada uma efusão de sangue inútil.” (Em vez de efusão inútil de sangue)

11. Neologismo: Palavra, expressão ou construção recentemente criada ou introduzida na língua. Costumam-se classificar os neologismos em:
Extrínsecos: que compreendem os estrangeirismos.
Intrínsecos: (ou vernáculos), que são formados com os recursos da própria língua. Podem ser de origem culta ou popular. Os neologismos de origem culta subdividem-se em:
Científicos ou técnicos: aeromoça, penicilina, telespectador, taxímetro (redução: táxi), fonemática, televisão, comunista, etc...
Literários ou artísticos: olhicerúleo, sesquiorelhal, paredro (= pessoa importante, prócer), vesperal, festival, recital, concretismo, modernismo etc...
OBS.: Os neologismos populares são constituídos pelos termos de gíria. "Manjar" (entender, saber do assunto), "a pampa", legal (excelente), Zico, biruta, transa, psicodélico etc...

12. Preciosismo: Expressão rebuscada. Usa-se com prejuízo da naturalidade do estilo. É o que o povo chama de "falar difícil", "estar gastando".
Ex.: "O fulvo e voluptoso Rajá celeste derramará além os fugitivos esplendores da sua magnificência astral e rendilhara d’alto e de leve as nuvens da delicadeza, arquitetural, decorativa, dos estilos manuelinos."
OBS.: O preciosismo também pode ser chamado de PROLEXIDADE.

domingo, 10 de março de 2013

FIGURAS DE LINGUAGEM


Quando manipulamos a linguagem em busca de uma maior expressividade, podemos fazê-la em três níveis: no nível das palavras (pela escolha dos itens lexicais que compõem os enunciados), no nível da sintaxe (em que se estabelece a ordem das palavras no enunciado) ou no nível do pensamento (em que se estabelecem as relações de sentido entre as formas da língua e seu objeto de referência no mundo). Subdividem-se em figuras de palavra, figuras de som, figuras de construção e
figuras de pensamento.

                                    FIGURAS DE PALAVRA

São aquelas que resultam do emprego de uma palavra em um contexto que altera sua significação habitual.

1. Metáfora: quando se constrói uma metáfora, diz-se que houve uma transferência (a palavra grega “metaphorá” significa transporte) de um termo para um contexto de significação que não lhe é próprio. As metáforas baseiam-se, via de regra, em uma relação de “similaridade” (semelhança) que pressupõe um processo anterior de comparação.
A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.

“A inflação é um monstro adormecido à espreita em todas as esquinas.”

2. Metonímia: ocorre quando se opta por utilizar uma palavra em lugar de outra para designar algum objeto (em sentido amplo) que mantém uma relação de “proximidade” com o objeto designado pela palavra substituída.
Há várias situações em que isso pode ocorrer. Algumas das relações que levam a um uso metonímico de alguma palavra ou expressão manifestam-se quando se toma:

a) A parte pelo todo.
“Ele tem duzentas cabeças de gado em sua fazenda.”

b) O continente pelo conteúdo.
“João é bom de garfo.”

c) O autor pela obra.
“Devolva o Neruda que você me tomou, e nunca leu.” (Chico Buarque e Francis Hime, “Trocando em miúdos”)

d) A marca pelo produto.
“Você me empresta o durex?”

3. Catacrese: na falta de uma palavra específica para designar determinado objeto, utiliza-se uma outra a partir de alguma semelhança conceitual. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado.

“O pé da mesa estava quebrado.”

4. Antonomásia: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:

“...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles).”

5. Sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

“A luz crua da madrugada invadia meu quarto.”


                                   FIGURAS DE SOM

6. Aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais.

“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”

7. Assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.

“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”

8. Paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos.

“Eu que passo, penso e peço.”


                                   FIGURAS DE CONSTRUÇÃO

9. Elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.

“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia)


10. Zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes.

Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)


11. Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.

“ E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”

12. Inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.

“De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.”

13. Silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:

• De gênero
“Vossa Excelência está preocupado.”

• De número
“Os Lusíadas glorificou nossa literatura.”

• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.”

14. Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.

“A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.”


15. Pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.

“E rir meu riso e derramar meu pranto.”


16. Anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.

“ Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.”

                                  
                                   FIGURAS DE PENSAMENTO

17. Antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.

“Os jardins têm vida e morte.”


18. Ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico.

“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”


19. Eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.

“Ele enriqueceu por meios ilícitos.” (em vez de ele roubou)


20. Hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática.

“Estou morrendo de sede.” (em vez de estou com muita sede)


21. Prosopopéia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.

“O jardim olhava as crianças sem dizer nada.”


22. Gradação: é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)

“Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”

23. Apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).
“Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!”